O dia da corrida começou bem cedo, mais precisamente na noite de sábado, quando organizamos nossas roupas e equipamentos e traçamos nossas estratégias para a corrida. Enquanto nos preparávamos para o grande dia, foi impossível não se emocionar e sentir aquele frio na barriga, afinal estava chegando a hora.
Perdi as contas de quantas vezes acordei durante a noite para olhar as horas, a ansiedade e adrenalina já tomavam conta da cabeça e do corpo. Quando o despertador tocou, eu já estava mais que pronto para levantar e ir finalmente encarar a Meia de Nova York.
Acordamos às 5:30h e em poucos minutos estávamos prontos para partir em direção ao Central Park. Aproveitamos que nosso acesso para o curral de largada (é assim mesmo que eles chamam, “corrals”) era pela rua 72 e fomos correndo para aquecer. Ainda era noite quando saímos (6:00h) e não era possível ainda saber se seria um dia de sol ou não, mas assim que pisamos na rua já tivemos a primeira certeza, seria um dia muito frio.
Quando nos aproximamos da rua 72 pela 5ª av, já avistamos os caminhões da UPS onde deixaríamos nossas sacolas. Os caminhões estavam estacionados ao longo da 5ª avenida, sendo 1 caminhão para cada 1.000 números (ex. Caminhão 17 era para os números de 17.000 até 17.999). Foi bem mais rápido e fácil do que pensávamos fazer a entrega das sacolas nos guarda-volumes, bastava estar com a sacola certa que tinha sido distribuída pela organização e ter colado o adesivo com o número corretamente.
Com as sacolas entregues, nossa próxima parada era o local da largada. Como falei em um post anterior, apesar de estarmos classificados em “cores” diferentes, nossa opção era por largarmos juntos.
Aquela multidão entrando no Central Park já começava a mostrar o tamanho da corrida que estávamos prestes a participar, não tinha como não estar orgulhoso de estar ali. Ainda era bem cedo e escuro, por volta de 6:30h, quando encontramos o curral de largada correspondente ao número da Juliana. Como a largada estava prevista para às 7:30h, acabamos tendo que esperar mais de uma hora até o início da corrida.
Esperar por uma hora naquele lugar não seria problema nenhum, pois além de espaço suficiente, cada curral de largada para aproximadamente 1000 corredores, possuía 10 banheiros químicos, o que nos deixou tranquilos quanto aquela vontade que sempre vem antes da largada. Mas o frio acabou se encarregando de tornar essa hora a parte mais difícil de toda meia maratona.
O dia foi amanhecendo e o sol não apareceu, o frio que já era grande, foi aumentando com o passar do tempo. Fazia 5ºC e estava muito úmido naquela manhã, quase congelamos, não adiantava nem ficar se mexendo o tempo todo. Quanto mais frio nós sentiamos, mais o tempo demorava a passar, o negócio então era tentar se distrair e aguentar.
Num desses momentos de distração, uma senhora que também estava ali para correr a meia, nos viu tentando tirar uma “auto-foto” e se ofereceu para nos ajudar. Depois de tirar a foto pra nós, ela com muita simpatia perguntou o que estava escrito na nossa camiseta, foi então que me lembrei da lição do meu amigo Nilton Generini no facebook uns dias antes, quando corrigiu outro louco por corridas, o Enio, que assim como eu, achava que era “Crazy for Run”. Segundo o professor Nilton, a tradução correta para “ Loucos por Corridas ” seria “ Mad about Running ”, não tive dúvidas e tasquei rapidamente o “Mad about Running” na resposta, e colou! Ela achou legal e engraçado, percebi que outros corredores ao redor também se viraram para olhar, era a camisa do Loucos por Corridas fazendo sucesso em NY!
Mas o frio era demais, e faltando uns 15 minutos para a hora da largada, nós já estavamos abraçados para nos esquentar. Parecia aquela cena de pessoas tentando sobreviver no polo norte. Foi realmente díficil aguentar aquele frio só de calção, camiseta e boné, principalmente para quem a 3 dias atrás vivia nos 30ºC de Floripa.
Às 7:30h escutamos o sinal de largada e os gritos do narrador, todo mundo começou a se aglomerar, mas só as 7:40h é que começamos a caminhada em direção a linha de largada. Naquele momento o que sentíamos era um alívio tremendo de poder começar a correr e acabar com aquele frio.
A caminhada até a linha de largada foi uma legítima procissão. Demorou 30 minutos até que chegassemos ao ponto de partida. Quando estavámos a uns 200 metros da largada, pudemos ver os corredores da elite passar ao nosso lado, na outra metade da avenida, prestes a completarem os primeiros 10km.
Faltando 100 metros para finalmente cruzar a linha de largada, a caminhada começou a se transformar em corrida, e o coração começou a bater mais forte. Estavamos a alguns passos de disparar o cronômetro para nossa primeira meia maratona.
Uma das coisas que mais chamaram nossa atenção nesse momento, foram várias pessoas tirando os agasalhos e jogando para os lados. Toda aquela roupa usada pelos corredores para aguentar o frio antes da largada era “jogada fora” deixando as calçadas e grades cheias de moletons, casacos, camisetas, luvas, gorros e etc.. Tudo isso seria depois coletado pela organização para servir de doação aos que precisam. Achamos uma atitude fantástica e que pode muito bem ser copiada por nós!
Os primeiros 10km’s
3, 2, 1….e lá vamos nós, cruzamos a linha de largada exatamente as 8:03h, a partir dali tudo o que sonhamos para aquele dia começava a se tornar realidade, cada passo dado reduzia a distância entre nós e nossa medalha de finisher da NYC Half Marathon 2012.
Nosso objetivo era terminar e se possível em 2:30h, para isso nosso pace médio deveria ser de 6’30”. Como sabíamos que os primeiros 10km seriam com relevo variado, decidimos sair com um pace bem leve, entre os 6’30” e 7’00”. Foi um pouco difícil conter a empolgação inicial em meio a tanta gente afim de correr, mas nessas horas é olho no garmim e concentração total.
Antes mesmo do km 5, o relevo variado já começava fazer algumas vítimas. Vimos muita gente caminhando nas subidas que nem eram tão ingremes assim, era o preço por ter acelerado demais no início. Nós felizmente conseguimos correr o tempo todo e passamos pelo sobe e desce do Central Park sem problemas.
Num dos trechos do lado oeste do Central Park, onde a subida era mais ingreme e muita gente ia caminhando, virei para a Juliana e lembrando de uma das nossas melhores corridas, fui obrigado a dizer: “– Esses aí não aguentariam correr os 10km de Angelina!”
Tanta novidade a nossa volta e a torcida animada gritando e tocando os sininhos durante todo percurso, fizeram com que os primeiros km’s dentro do Central Park passassem muito rápido, não dava nem tempo de pensar em cansaço. Mas lá pelo 7º km quando a adrenalina já tinha baixado um pouco e começamos a ficar mais a vontade na prova, eu senti que estava me esquecendo de alguma coisa muito importante.
Toda aquela ansiedade pré-prova, todo frio da espera e a descarga de adrenalina da largada me fizeram esquecer de um detalhe muito importante daquele dia especial: ERA ANIVERSÁRIO DA JÚ!!!
Isso mesmo, eu só me lembrei que era aniversário dela, lá no 7º km. Não sei ao certo se ela já tinha lembrado e estava me testando, mas na mesma hora que me dei conta do meu esquecimento, comecei a cantar o “Parabéns a Você” em alto e bom tom pra ela. Daquele ponto em diante comecei a gritar para os torcedores e staffs que estavam nas calçadas que era aniversário da Jú, a maioria gritava de volta desejando um “Happy Birthday” na maior felicidade. Foi engraçado!
Agora a festa estava completa, estavamos em New York, estreando nas meias maratonas e comemorando o aniversário da Jú.
No final da volta pelo Central Park, quando completamos 10 km’s (1:05:48), ficamos mais confiantes ainda, pois além de estarmos nos sentindo muito bem e já ter percorrido quase metade da corrida, a pior parte do trajeto já tinha ficado para trás. Da 7th Av. em diante só teríamos trechos planos e descidas leves pela frente. Dali por diante, era só sorrir bastante, continuar curtindo o visual de New York e correr mais 11km até a festa da chegada.
Assista o vídeo com esses 10km iniciais da participação do Casal 21k na Meia de Nova York.